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02/08/2014

Sobre o que ficou pelo caminho


Não sei se foi você ou se fui eu, mas algo ficou pelo caminho e nós nem percebemos. Bem que podia ser nós dois, andando de mãos dadas por aí feito aqueles casais de filme que insistem em fazer a linha: "Olha-só- como-somos-perfeitos-e-felizes-e-blá-blá-blá". Mas não, nunca fizemos o tipo clichê e  isso foi uma das tantas coisas que ficaram pelo caminho. Você pensou ser meu e eu pensei ser sua; só sua e nunca de mais alguém. É, atuamos bem. Tão bem, que poderíamos ser protagonistas de um filme bobo qualquer.

Então me deixa ir embora, deixa enquanto ainda é tempo e não abrimos nenhuma ferida no outro. Não finge que está tudo bem, que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes, pois não está tudo bem.

Seu sorriso torto e suas frases filosóficas que me faziam rir já não possuem o mesmo efeito sobre o meu coração tolo e desengonçado. Onde eu costumo estar, você não está. Então me diz: onde pretendemos chegar com tudo isso? Cantei, gritei e supliquei pra que nossos corações não sejam vítimas desse vendaval. É que de um lado o vento insiste em não te deixar me ouvir e do outro a poeira nos cega. Então, menino, me deixa ir.

Não diz "vem". Não me mostra o caminho, pois meus pés doem e já não aguento mais andar como se estivesse em círculos. Quero esquecer onde guardei todos aqueles cd's com as músicas que você fez questão de gravar e que conseguia mexer com cada pedacinho de mim a cada extensão do meu corpo pequeno e frágil. "Pequena"... Logo eu que sempre fui tão forte - ou ao menos fingia muito bem - recebi um mimo que pareceu me cair tão bem e de um jeito que apenas você sabia colocar nos momentos certos.

Mas por favor, não me pede pra ficar. Não é que eu seja egoísta e só veja meu próprio umbigo (o que dá no mesmo). Não é que eu seja covarde e ache que o caminho mais fácil que andar em círculos é ir embora. Tampouco quero outro destino diferente do que já planejamos e replanejamos. É que se você me pede pra ficar, assim com esse sorriso torto e essas frases filosóficas que eu digo não ter mais efeito, eu fico.

27/07/2014

Um copo de desapego, por favor



Ei, garçom. Tá vendo aquele cara sentado àquela mesa? Aquele mesmo acompanhado daquela moça bonita. Olha só o jeito como ele a olha, fazendo-o parecer vulnerável, mas ele não tem nada disso. É tão seguro de seus atos quanto você possa imaginar. Pobre moça, ao olhar aqueles olhos que parecem inofensivos, deve achar que ele é diferente dos outros com quem ela deve ter se decepcionado.

Olha só, agora ele vai pegar a mão dela e elogiar o quão macia a pele dela é, e como o sorriso dela o encantou. Pobre moça, eu poderia dizer a ela para não cair nessa roubada, mas já é tarde, ela abaixou a cabeça e sorriu. Ele a ganhou. É assim com todas. Ficam tão vulneráveis com essas frases ensaiadas, que mal percebem a cilada em que estão se metendo.

Daqui a pouco eles vão sair daqui de mãos dadas. Ele pagará o quarto mais caro e romântico dessa cidade, e o resto... Bom, o resto você já sabe. Amanhã a moça chora e o moço sorri. Ah, é, garçom. Você deve estar se perguntando como eu sei de tudo isso. Mas olha lá eles passando, e como eu disse, de mãos dadas. Eu já estive sentada àquela mesa, bebendo o mesmo vinho e ouvindo as mesmas palavras. É, garçom, eu já fui aquela moça.

03/07/2014

Perdoa o pobre rapaz


Era o primeiro dia de outono quando ele acordou disposto a largar tudo aquilo que não estava fazendo bem aos dois. Ele sussurrou baixinho que não poderia mais levar aquela situação adiante. Mas fora um sussurro tão baixo e tão sofrido, que nem mesmo ela conseguiu entender. Foi então que ele precisou gritar aos quatro ventos que seu coração nunca foi e nunca seria dela, que o que ele sentia podia ser tudo, menos amor. E sim, foi tudo. Foi uma chance de amar novamente, uma chance de fugir da realidade, uma chance de finalmente reconstruir seu coração, que outrora havia sido quebrado. Mas amor, não. Amor nunca foi.

Ela também havia tido seu coração quebrado, mas não por amores passados, e sim por ele. E assim como aquela estação, ela estava desmoronando aos poucos. Sabia que podia fazer dele o cara mais feliz do mundo, mas não teve oportunidade. Ela sabia que ele guardava segredos capaz de assustar qualquer ouvinte, entretanto, não ela. 

Mas perdoa.

Perdoa, moça, esse pobre rapaz que não mais sabe amar. Perdoa se ele não pensou em você enquanto te beijava, perdoa se ele já sussurrou o nome de outra enquanto era você que ele tinha entre os braços, perdoa ele não ter jogado todas aquelas tralhas fora. Ele não conseguiu se desprender do passado. Então, perdoa. Perdoa se suas palavras de afeto não foram capazes de fazer aquele pobre coração se remendar. Perdoa o choro contido, as noites de insônia e aquela foto 3x4 que ele insistia em guardar no fundo da carteira. Perdoa a pessoa que ele não foi quando deveria ser. Perdoa os sábados, os domingos e os feriados sozinha no canto do sofá enquanto ele esquecia que deveria te ver e não pensar nela.

É que, moça, você não sabe o que um coração partido é capaz de fazer. Então, perdoa.

30/06/2014

Ele se foi


Então ele se foi, sem um adeus, sem despedidas. Eu sabia que não era necessário, nós sabíamos. Tudo estava desgastado demais para nos preocuparmos com sutilezas. Ele apenas levantou da mesa em que estávamos tomando o nosso rotineiro café, pegou suas chaves do carro, me deu um beijo na testa e seguiu andando. Não gritou, não bateu a porta e não saiu furioso. Isso já acontecera “trocentas” vezes, talvez estivéssemos cansados de repetir o mesmo dilema.

Mais que nunca, eu senti um lado da cama vazio. Não apenas a cama, como também meu coração. Não, eu não estava sentindo remorso ou culpa. Eu apenas não sentia absolutamente nada. Não sobrou nada. Não sei onde nos perdemos. Não sei em que esquina soltamos nossas mãos e nos deixamos vagar por aí. Apenas não nos encontramos mais. Tudo ficou claro e nítido: Ele não era mais meu, assim como eu deixei de ser dele. E pela primeira vez não berramos feito dois loucos. Passamos a entender que não havia mais jeito para nós dois.

O nosso amor virou poeira, e como poeira, se deixou espalhar e perder por aí. Ele se foi, levando tudo que sentimos um dia e jogando em um canto qualquer por aí. Fazia tempo que deixou de ser legal. Toda a nossa história estava acabando sem o tal “final feliz”. Mas diferente do que eu achei que seria, nosso final não foi doloroso. Nós tivemos a coragem de assumir que o amor morreu, e entendemos que as vezes a vida engana.

Talvez o amor tenha ido embora junto com as borboletas que habitavam meu estômago. Ou talvez ele tenha ido embora quando não mais fizemos questão de nos dar as mãos. Ou quando o "Eu te amo" se tornou uma frase ensaiada e sem sentido. Ou até mesmo quando ele deixou de ser dito. Não importa quando e como ele foi embora, ele simplesmente se foi.

24/06/2014

Perdoa o drama


Na pele ainda sinto o gosto do seu beijo. Frescor e suavidade que orvalho algum poderia causar. A pele arde em chamas sem você ao menos ver, e até se eu falasse, você não iria acreditar. Mas meu bem, você ficou em mim feito tatuagem; que gruda, colore e invade. A pele possui sua impressão digital. Não sei se faz por bem ou mal, meu bem. E, se você não vem, é difícil admitir, mas o coração se sente meio de lado, sei lá. É como se houvesse mil estrelas por aqui, mas nenhuma delas eu conseguisse enxergar. O céu se põe em prantos, receio até comentar, mas as nuvens que eram espessas, começaram a aglomerar. Vai ver elas sentem tudo aquilo que eu senti: sozinha no meu canto, mas acolá, acolá.

Então, toma jeito e não mais deixai lembranças, que daqui de onde estou é difícil segurar. Enquanto vai embora, mesmo que por pouco tempo, leva contigo tudo aquilo que te remete. E perdoa o drama. Nessa trama subo ao palco e descolo um improviso, pois enredo a gente não possui. Mesmo que teu ponto de partida coincida com o de chegada, a saudade vem bater. A minha porta espera sempre por você, diferente de mim, que não irei confessar. E, caso isso tudo fosse a ti se encaminhar, mesmo assim, você não iria acreditar.